IT: Bem-Vindos a Derry é bom? Crítica completa da série que aprofunda o terror de Pennywise

Poucas séries recentes carregam um peso tão grande nas costas quanto IT: Bem-Vindos a Derry. Não estamos falando apenas de expandir um universo famoso, mas de encarar diretamente a sombra de Pennywise e provar que ainda existe algo novo — e realmente assustador — a ser contado sobre essa cidade amaldiçoada. E a verdade é uma só: a série não joga seguro. Ela provoca, incomoda e, em vários momentos, assusta mais pelo que diz sobre as pessoas do que pelo que mostra do monstro.
Uma série que entende que Derry sempre foi o verdadeiro vilão
Desde os primeiros episódios, fica claro que IT: Bem-Vindos a Derry não quer repetir a fórmula dos filmes. Aqui, Pennywise não é apenas um palhaço assassino que surge para gerar sustos pontuais. Ele é consequência. O foco da narrativa está em mostrar como Derry é uma cidade apodrecida por dentro, onde o mal se manifesta primeiro nas atitudes humanas — no preconceito, na violência cotidiana e no silêncio cúmplice da comunidade.
Essa escolha pode dividir o público, mas funciona justamente porque respeita a essência da obra de Stephen King. O terror mais perturbador nunca foi apenas sobrenatural. Ele nasce do ambiente, das pessoas e das estruturas que permitem que o horror se repita geração após geração.
Pennywise aparece menos — e isso é um acerto
Uma das decisões mais inteligentes da série é não exagerar no uso de Pennywise. Bill Skarsgård retorna ao papel com a mesma presença ameaçadora dos filmes, mas aqui seu personagem é usado com parcimônia. Cada aparição carrega peso, tensão e desconforto real.
Quando Pennywise surge, ele não precisa de exageros visuais para causar impacto. Um olhar, um sorriso fora do lugar ou uma frase dita no tom errado já são suficientes para lembrar o espectador de que algo está profundamente errado em Derry. Esse controle torna o terror mais psicológico e menos dependente de sustos fáceis.
Um terror que incomoda porque é real demais
Talvez o aspecto mais ousado — e também o mais controverso — de IT: Bem-Vindos a Derry seja a forma como a série encara o horror humano. Racismo, violência institucional e ódio coletivo são tratados de maneira direta, sem suavização. Em alguns episódios, o desconforto vem menos do sobrenatural e mais da constatação de que aquelas situações não pertencem apenas à ficção.
Há quem critique esse foco, alegando que a série se afasta do terror clássico. Mas a verdade é que essa abordagem fortalece a narrativa. Pennywise se alimenta do medo, e poucos medos são tão profundos quanto aqueles enraizados em injustiças reais. A série entende isso e usa essa camada social como combustível para o horror.
Ritmo irregular, mas intencional
Nem tudo funciona perfeitamente. O ritmo da temporada oscila, especialmente nos episódios centrais, onde o desenvolvimento dos personagens toma mais espaço do que o avanço da trama principal. Para quem espera ação constante ou revelações rápidas, esse pode ser um ponto de frustração.
Por outro lado, essa construção mais lenta permite que a série crie empatia e mergulhe no psicológico dos personagens. Quando o terror finalmente explode, ele tem impacto justamente porque o espectador já entende o que está em jogo.
Uma ambientação que merece aplausos
A recriação de Derry nos anos 60 é impecável. Figurino, trilha sonora e fotografia trabalham juntos para criar uma sensação constante de opressão. Não é uma nostalgia confortável — é uma nostalgia inquietante, que reforça a ideia de que algo naquela cidade nunca esteve certo.
A direção aposta em enquadramentos fechados, sombras e silêncios prolongados, deixando claro que o medo não precisa estar sempre em movimento. Às vezes, ele apenas observa.
Vale a pena assistir IT: Bem-Vindos a Derry?
Sim — especialmente se você busca mais do que sustos fáceis. IT: Bem-Vindos a Derry é uma série que exige paciência e disposição para encarar um terror mais denso e reflexivo. Ela não tenta substituir os filmes, nem competir diretamente com eles. Seu objetivo é outro: aprofundar o mito, dar contexto e mostrar que Pennywise é apenas o sintoma de um mal muito maior.
No fim das contas, a série acerta justamente por incomodar. Porque Derry nunca foi apenas o palco da história — ela sempre foi parte do problema. E IT: Bem-Vindos a Derry entende isso melhor do que qualquer adaptação anterior.
Se o terror que realmente te assusta é aquele que parece próximo demais da realidade, essa série não apenas vale a pena — ela é necessária.